10 de jun. de 2013

::De Sarau em Sarau::



A ideia de se reunir pra fazer Sarau já é antiga na Casa. Os anos passam, pessoas entram e saem, algumas voltam, outras não. O Sarau continua sendo um momento especial para todos, de afeto e encontro! A cada momento este espaço apresenta novas possibilidades, formatos, ideias. Este ano nossos encontros foram em abril e maio, e já quisemos objetivar um pouco. Tentar expressar em palavras o afeto. Nada fácil!



Daí em abril... nos propomos a pensar coletivamente sobre como está nossa comunidade atualmente. O que mudou? O que ficou? O que não vimos? Estávamos em vários neste dia, tínhamos fotos dos últimos vinte anos da comunidade. Tínhamos pão e vinho. Tínhamos disponibilidade entre nós.
Na roda, começamos a compartilhar nossas impressões sobre a comunidade. Cada um a partir de sua história de relações. Surgiram concordâncias, divergências, ideias, desabafos, sorrisos. Um de nossos amigos sugeriu que hoje a comunidade anda como a maioria das comunidades: numa infelicidade comum, com suas necessidades básicas atendidas, como moradia, luz, água, saneamento, escola, creches, centro de saúde. Existe pobreza, existe violência, existem dificuldades na educação, na saúde, na infraestrutura. Mas onde não existem estas dificuldades?
            Daí, começamos a pensar juntos sobre o que as pessoas querem para além das necessidades básicas. O que almejamos? O que sonhamos? De que modo o estigma sobre a Comunidade Chico Mendes, tão reproduzido pela grande mídia, criam à priores sobre nós mesmos, criam identidades cristalizadas que nos limitam e excluem? À quem serve nosso lugar social de periferia? Que papéis a Casa Chico Mendes desempenha hoje na comunidade? Muita coisa, né?


Em Maio... pensando em tudo que tem surgido, nosso Sarau este mês procurou criar campo para compartilharmos nossos sonhos. Os sonhos que nos levam a caminhar, criar e recriar no mundo. Estivemos juntos, mediados pelo afeto, conversando sobre assuntos oníricos, estes que nos movem no mundo. Daí, de repente, percebemos que estávamos, em maioria, jovens. E começamos a nos dar conta de que a juventude sempre movimentou a Casa Chico Mendes, desde seu início. Poderíamos viajar nas diferentes concepções de juventude e o que isso diz da relação não institucional da Casa com as pessoas da comunidade.  É tão bonito, como esta Casa – as pessoas que dela fazem parte – agregam conhecidos e desconhecidos, novos e velhos, cada um com sua forma de ser e estar no mundo, amigos trabalhando em coletividade, sem a pretensão de salvar o mundo, querendo a relação que afirma o outro,  acolhe e potencializa!
Makhiély.


De forma sutil e indelicada (por que não?), um dos integrantes da casa Chico Mendes, Yuri, propôs ao grupo que o tema do sarau seria os sonhos de todos que ali estavam e que se utilizassem daquele espaço para compartilhar uns com os outros. Sentados em um tapete aconchegante, ao redor de garrafas de vinho como suporte para velas, o clima era de acolhimento e calor, e nada como um vinho suave ou seco – de acordo com o nível de doçura necessário a cada um – para deliciar mais ainda a companhia de pessoas tão especiais.
Sonhos não precisam ser descartados e considerados apenas como coisas inalcançáveis, como geralmente costumamos ouvir, mas podem conduzir nossa caminhada, nos faz querer mais. Galeno, autor uruguaio, fala exatamente isso, quando se questiona “para que serve a utopia?” e responde que ela serve para que não se deixe de caminhar.
Dentre os sonhos que nos fazem caminhar se colocaram naquele espaço a importância também do que já temos, do que já alcançamos, do que está próximo e que as vezes não nos damos conta. Sonhos interligaram-se naquele espaço, constituindo uma teia, ou melhor uma rede, que demonstra também o que nos faz estar juntos. Foram idealizados naquele momento vontades muito peculiares e, que mesmo parecendo contraditório falar, as peculiaridades fizeram eco, demonstrando o momento em que a Casa Chico Mendes se encontra: Efervescer.
Vanuza.


Além de vinhos, velas e tudo o necessário para criarmos o clima onírico, trouxemos outra forma de expressão. Pedaços de papel pardo estavam colocados sobre duas grandes mesas na sala, e havia tinta disponível para quem quisesse pintar, dessa possibilidades surgiram desenhos complementados e jogos de advinhação, uma comunicação outra foi estabelecida. Cada um deixou sua marca, fosse uma pincelada ou uma mancha de vinho mesmo.
Além de falarmos sobre nossos sonhos, objetivamos eles ali de alguma forma, ensaiamos desejos e fantasias e o que acredito ser o mais bonito: compartilhamo-nos.
Projetamos alguns filmes com uma proposta estética surreal para combinar com o tema e ir na onda do cinema que estamos por agora.
Nossos sonhos nos afetam, sonhamos com o afeto.


William.

E prosseguimos...

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