27 de jun. de 2013

A cozinha e as manifestações

O assunto do momento é a movimentação política nas ruas pelo Brasil. E como a Casa Chico Mendes também é espaço de politização, temos conversado sobre tudo isso. Fomos à manifestação que ocorreu em Florianópolis no dia 20 de junho de 2013 e ficamos com várias e confusas impressões. O Dodô fez um texto que traz um pouco destas discussões.




Eu gosto muito de cozinhar. Cozinhar com e para os meus amigos e amigas. Alem de um saber, a cozinha exige gostar, requer afeto e também alguns cuidados. Hoje a ideia é fazer um caldo de feijão, caldo de feijão, repito. Sei que feijão combina com alguns ingredientes, mas outros estragariam o prato. Não posso abrir os armários e pegar tudo que encontrar e colocar na panela. E mesmo aqueles que são necessários precisam ser colocados na medida certa. Sal e fogo exigem cuidados especiais. A força das chamas e o tempo de cozimento são importantíssimos. O fogo quem controla sou eu. Até aceito palpites, mas que cozinha sou eu. Os produtos precisam ser escolhidos. Olho os rótulos, a composição e, de modo especial. O prazo de validade. Outro ponto muito importante, talvez o mais importante: Não faço caldo de feijão só pra mim. Estou pensando isso por que é a imagem que pode me ajudar a entender um pouco a experiência que vivi ontem na manifestação no centro de Florianópolis. Há pouco tempo um grupo de pessoas, especialmente jovens, começou a discutir a importância de um transporte público de qualidade, acessível para todos. Estava nascendo Movimento Passe Livre. Lembrei-me que em diversas ocasiões os militantes desse movimento foram cercados pelas forças policiais, foram agredidos e insultados. Lembrei-me também que via muita gente torcendo o nariz, ignorando, xingando. Afinal, era apenas um bando de jovens que não tinham o que fazer, afinal, eles só estudavam. Mas o movimento perseverou, cresceu. Preciso apontar que esse movimento não era um bando de anônimos. São pessoas que discutem, se informam, estudam muito para entender os motivos de sua militância. Retomando, cheguei ao centro e fiquei perplexo ao ver gente chegando de todos os lados, uma multidão. Encontramos-nos, um grupo de amigos e nos perguntamos: E agora? Pra onde vamos? Começamos a caminhar e logo avistamos os sinais do Movimento Passe Livre, e vários grupos que defendem outras causas. Aí nos achamos! Logo veio o anuncio: Vamos pra ponte! Há tempos atrás seria “vamos ocupar a ponte”, diga-se! Mas fomos! Milhares de pessoas caminhando. Na caminhada fomos vendo e ouvindo todo tipo de manifestações. O que estou fazendo aqui? Perguntei-me isso várias vezes. Cada coisa! Cada coisa! Fiquei muito feliz em ver que a maioria eram jovens e adolescentes, pelos menos os que estavam ao meu redor! Mas umas perguntas me vinham: Como está a educação em nosso país? Como que os grupos que chamamos de burguesia conseguem se articular tão bem? Qual o papel da universidade na educação dos jovens para uma participação política? A sensação era de que propositadamente a mídia conservadora, os governantes e seus asseclas estavam conseguindo esmagar, sufocar, apagar todo o frescor juvenil do Movimento passo livre. Ingredientes demais, temperos de demais, fogo demais. O banquete como um todo estava estragado, indigesto. Mas comemos alguma coisa e fomos pra casa. Em tempo, vi na televisão que o Movimento Passe Livre não irá convocar mais manifestações, por enquanto. Vai rever a receita!

Dodô.

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