O assunto do momento é a movimentação política nas ruas pelo Brasil. E como a Casa Chico Mendes também é espaço de politização, temos conversado sobre tudo isso. Fomos à manifestação que ocorreu em Florianópolis no dia 20 de junho de 2013 e ficamos com várias e confusas impressões. O Dodô fez um texto que traz um pouco destas discussões.
Foto: Débora Klempous /ND
Eu gosto muito de cozinhar.
Cozinhar com e para os meus amigos e amigas. Alem de um saber, a cozinha exige
gostar, requer afeto e também alguns cuidados. Hoje a ideia é fazer um caldo de
feijão, caldo de feijão, repito. Sei que feijão combina com alguns
ingredientes, mas outros estragariam o prato. Não posso abrir os armários e
pegar tudo que encontrar e colocar na panela. E
mesmo aqueles que são necessários precisam ser colocados na medida certa. Sal e
fogo exigem cuidados especiais. A força das chamas e o tempo de cozimento são
importantíssimos. O fogo quem controla sou eu. Até aceito palpites, mas que
cozinha sou eu. Os produtos precisam ser escolhidos. Olho os rótulos, a
composição e, de modo especial. O prazo de validade. Outro
ponto muito importante, talvez o mais importante: Não faço caldo de feijão só
pra mim. Estou pensando isso por que é a imagem que pode me ajudar
a entender um pouco a experiência que vivi ontem na manifestação no centro de
Florianópolis. Há pouco tempo um grupo de pessoas, especialmente jovens,
começou a discutir a importância de um transporte público de qualidade,
acessível para todos. Estava nascendo Movimento Passe Livre. Lembrei-me que em
diversas ocasiões os militantes desse movimento foram cercados pelas forças
policiais, foram agredidos e insultados. Lembrei-me também que via muita gente
torcendo o nariz, ignorando, xingando. Afinal, era apenas um bando de jovens
que não tinham o que fazer, afinal, eles só estudavam. Mas o movimento
perseverou, cresceu. Preciso apontar que esse movimento não era um bando de
anônimos. São pessoas que discutem, se informam, estudam muito para entender os
motivos de sua militância. Retomando, cheguei ao centro e fiquei perplexo ao
ver gente chegando de todos os lados, uma multidão. Encontramos-nos, um grupo
de amigos e nos perguntamos: E agora? Pra onde vamos? Começamos a caminhar e
logo avistamos os sinais do Movimento Passe Livre, e vários grupos que defendem
outras causas. Aí nos achamos! Logo veio o anuncio: Vamos pra ponte! Há tempos
atrás seria “vamos ocupar a ponte”, diga-se! Mas fomos! Milhares de pessoas
caminhando. Na caminhada fomos vendo e ouvindo todo tipo de manifestações. O
que estou fazendo aqui? Perguntei-me isso várias vezes. Cada coisa! Cada coisa!
Fiquei muito feliz em ver que a maioria eram jovens e adolescentes, pelos menos
os que estavam ao meu redor! Mas umas perguntas me vinham: Como está a educação
em nosso país? Como que os grupos que chamamos de burguesia conseguem se
articular tão bem? Qual o papel da universidade na educação dos jovens para uma
participação política? A sensação era de que propositadamente a mídia
conservadora, os governantes e seus asseclas estavam conseguindo esmagar,
sufocar, apagar todo o frescor juvenil do Movimento passo livre. Ingredientes
demais, temperos de demais, fogo demais. O banquete como um todo estava
estragado, indigesto. Mas comemos alguma coisa e fomos pra casa. Em tempo, vi
na televisão que o Movimento Passe Livre não irá convocar mais
manifestações, por enquanto. Vai rever a receita!
Dodô.
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